26 agosto, 2007

Sozinho no café...

Após alguns meses de ausência, eis que volto para postar algo aqui.
Estas férias estive enclausurado na terra dos meus avós...foi uma tortura psicológica para mim, mas deu-me tempo para reflectir...

Felicidade...Ora aí está um conceito bem comum na boca das pessoas.
Mas...será que as pessoas são realmente felizes? Ou iludem-se elas apenas de que assim o estão para não mostrarem aos outros como realmente se sentem? Sempre que passo na rua, pergunto a alguém como vai a vida, e a resposta que sempre me dão é o típico "Cá vamos andando". Uma outra pessoa pensaria que até estava boa. Ou será esta uma resposta já tão mecanizada, para não mostrar a dor que realmente sentem. Ou porque perderam alguém; ou porque as coisas com o seu cônjugue não estão de vento em poupa; ou porque o emprego que sempre quiseram, afinal não passa nada mais nada menos de uma ilusão criada pelos belos papás e mamãs que sempre quiserem que os seus filhotes fossem doutores ou juízes; ou porque se calhar bateram com o carro e vão ser mais 200 euros de reparações. Se calhar, e esta é a minha modesta opinião, tudo se resume a uma coisa: solidão.

É um facto consumado que o número de pessoas com depressão e que por muitas vezes, depois se suicidam, se deve maioritariamente ao facto de se sentirem sozinhas. Eu nunca tive nada disso, mas podem crer que me sinto sozinho...muito sozinho. Quantas e quantas pessoas nunca se viraram para o espelho e viram que o único reflexo que viam era o delas mesmas., esbatido por entre lágrimas e suspiros.

A sociedade actual, é uma sociedade de casais, logo alguém que esteja sozinho começa logo por ser alguém numa realidade á parte, diferente dos restantes. Casamentos que depressa se transformam em divórcios... Aí ficam sozinhos certo?...Não...porque logo a seguir arranjam um namorado ou namorada. No entanto as pessoas continuam sozinhas. Certamente já ouviram a expressão "sinto-me sozinho no meio da multidão"...e não há nada mais factual e verdadeiro que se possa dizer.

Pessoalmente, eu tenho montes de amigos, mas no entanto continuo a sentir-me sozinho...muito mesmo, simplesmente porque os amigos são muito importantes, mas não são tudo. Poderá ser uma opinião algo estranha, mas os amigos são uma fonte de sobrevivência. Nada mais. Temos aqueles amigos verdadeiros, que servem para toda a vida. Mas só os temos porque vivemos na ilusão que temos alguém que dá tudo por tudo para estar connosco, que nos ajuda nas tempos piores, que está lá quando estamos doentes.

Isto, meus amigos, é puro cinismo. Sim, isso mesmo, puro cinismo. Eu sou um bocado parcial neste aspecto, mas mesmo assim deixo aqui um exemplo. Por inúmeras vezes me sentei eu, numa bela tarde de domingo, numa cadeira de uma esplanada, rodeado de vários amigos, com uma bebida fresquinha a acompanhar. Conversa amena, agradável a desenrolar pela tarde. Até que, afogados por entre risos e histórias, começam-se a ouvir os telemóveis tocar. E todos tocam pelo mesmo: a/o namorada/o a ligar pa saber onde estão, que é para irem sair...e um a um começam a ir embora. Os risos e histórias dão lugar a um silêncio constrangedor, à medida que o último "requisitado" é chamado.

E dou eu por mim, bem ao estilo de Hollywood, sentado numa esplanada deserta, onde antes se ouviam risos, e agora só se ouve o passar da vassoura pelo chão. Olho à minha volta e vejo-me sozinho por entre um amontoado de garrafas vazias, chávenas sujas e cadeiras desarrumadas. Sim, toda a gente teve algo para fazer e por isso fiquei eu sozinho e sentado em frente ao meu copo, de telemóvel na mão, ansiando que este tocasse e alguém do outro lado se lembrasse de mim. Mas não, passou-se o tempo e o telemóvel mantinha-se silencioso. A quantos de vocês isto nunca aconteceu? Então para vocês: são felizes, porque têm alguém que vos faz abandonar um ambiente de descontracção, que vos é importante, que vos ama. Eu, não tenho ninguém que me ligue para o telemóvel e me pergunte: "Onde andas? Tinhamos combinado ir ver o filme X. Vê lá se não te atrasas".

Felizes são, os que têm alguém que os ama...
Amaldiçoados sejam os que têm, e dizem que não.