08 janeiro, 2007

Só e em silêncio

Silêncio ecoa pelas paredes do abismo
À medida que caio infindavelmente
Tomando os últimos suspiros
Antes do impacto com a realidade.

Realidade nua e crua
Inflama à medida que o fundo se aproxima
Queimando as minhas cinzas com o frio
Do tempo secular que me inspira.

Nada mais existe, tudo terminou.
Já nada trava a minha ruína
Nem mesmo o parar do tempo
Que a mim me contaminou.

Séculos tiqueteiam por mim
O vento gélido parte a minha espinha.
Mil pedaços cintilam agora no chão.
Fragmentos do meu coração.

Infectado e apodrecido pela mágoa
Range pela última vez esta peça,
A última do mecanismo impotente
Que já não vive, sobrevive.

De gelo e pedra se pintam as cores
Do infectado músculo pustulento
Esmagado pelas réstias de calor
Que se debatem por flamejar.

O calor desapareceu, o que senti não existe.
Tudo uma ilusão de que poderia ser real.
Ter algo para me consolar para escapar
Ao iminente abandono permanente.

Sozinho, só...em silêncio caio no abismo.
Fecho os olhos e espero pela realidade.

Uma outra onde eu tenho valor.
Onde seja algo mais que uma cápsula
Inútil e desprovida de sentido,
Espezinhada e eliminada.